domingo, 31 de outubro de 2010

O fim do blá, blá, blá, e o cumprimento das promessas de campanha


A conversa mole ou real que justificou os pedido dos votos terminou, o resultado saí daqui a pouco. No entanto a minha paciência já não suporta mais ironias.
O somar de peras com maçãs, das promessas de campanha, feitas pela ausência de um suficiente know-how, ou pela simples opção de se utilizar de uma falácia, agora precisa ganhar contornos de realidade, possível de ser realizada pelo governante eleito.
Para nós eleitores, o retorno ao status quo, de simples cidadão, precisa ser alterado. Urge mudar a mentalidade de uma sociedade arraigada a padrões obsoletos de serventia, para sermos senhor das novas relações com o Estado.
Aquele que pediu e fez promessas para ter o voto do cidadão, não pode simplesmente agradecer. A sociedade que os empregou, pelo voto, deve exigir o começo do que foi prometido, e o respeito aos direitos fundamentais estabelecidos pela Constituição.
Chegou a hora de alargar a nossa noção de cidadania, cobrando resultados de nossos servidores recém empregados. A relação de serventia precisa ser permanentemente lembrada, de quem deve servir a quem. O político deve dedicar 100% de seu tempo e mandato para o interesse público.

O Sonho



Nos anos 80 sonhava-se com o futuro. Sonhava-se que a ciência iria resolver os problemas humanos, a fome seria suprimida e a automação iria substituir o trabalho mais pesado, permitindo uma maior justiça social. Energia e software eram quanto precisávamos para obter os nossos recursos. O trabalho humano seria menos necessário, e os produtos resultantes da automação seriam cada vez mais baratos.


Para manter o pleno emprego, o horário de trabalho seria reduzido e a reforma viria mais cedo. Como as pessoas viveriam mais tempo, elas podiam, a partir de certa altura, encetar uma nova vida e dispor de mais tempo para o convívio e educação dos mais novos. Haveria mais produção artística e intelectual e inovadora que resultaria do gosto de criar, o que se faria por opção. Na verdade, já estávamos nesse caminho.


Desde então, existiram imensos progressos da genética, da engenharia, da energética e da informática que facilitariam o sonho. A automação aumentou, os seus produtos embarateceram, apareceram as energias renováveis e o software não pára de substituir o trabalho humano, cada vez menos necessário. Mas aumentaram as exigências e o horário de trabalho, bem como a idade da reforma, à custa de um desemprego cada vez maior.


Temos hoje melhores condições para cumprir o sonho, no entanto caminhamos no sentido inverso, em direcção ao pesadelo. Nos anos 80 sonhava-se porque não se tinha previsto que o lucro fosse o valor supremo dos anos que a seguir viriam.


Texto de J. Pio de Abreu publicado no blog De Rerum Natura

sábado, 30 de outubro de 2010

Proteção civil



A proteção civil é uma das atividades do Estado que somente é percebida na ocorrência de situações de catástrofe, com perdas econômicas, sociais, culturais, etc.
Para que o Estado possa dar segurança para as pessoas, e diminuir os riscos naturais, medidas de prevenção a catástrofe devem estar inseridas no planejamento territorial, como medida de prevenção, muito mais do que como medida de reparação.
Neste sentido, o planejamento do território precisa localizar espaços ou áreas de risco, com ferramentas de cartografia, acrescido de inteligência aplicada aos dados da área monitorada, com vistas a subsidiar o ordenamento do território.
Localizado as áreas e tipos de riscos existentes que podem ameaçar a vida humana, as ações devem ser estruturadas de forma individualizada: áreas inundáveis por cheias, encostas de morros, nos locais de erosão, tsunami, ou com risco de incêndio, dentre outras, as ações de monitoramento e preventivas requerem um conjunto de procedimentos de defesa civil próprios.
Os Planos Municipais de Defesa Civil devem contemplar toda a operacionalização de salvaguarda a todo tipo de interesses, devendo estar integrado ao Plano de ordenamento do território municipal.
É tempo de perceber..., que tempo e o custo para reparação de danos é muito maior do que o da prevenção. O Estado não pode mais permitir que vidas sejam ceifadas e o patrimônio público e privado destruído, pela simples omissão do Poder Público.

A crise do pensar diferente

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Resultado da eleição 2010 do CRASC


Eleitores do Conselho Regional de Administração do Estado de Santa Catarina - CRASC: 9.487
Abstenção: 5.076 = 53,50%
Votos Nulos: 172 = 1,82%
Votos Brancos: 159 = 1,68%
Votos Chapa 1: 1. 383 = 14,57%
Votos Chapa 2: 1. 257 = 13,25%
Votos Chapa 3: 1. 440 = 15,18%

Os números da eleição leva-me a fazer três perguntas simples.
Pergunta 1: sendo o voto obrigatório, a abstenção de 53,50% dos eleitores está passando que recado para os dirigentes do CRASC?
Pergunta 2: os Conselheiros eleitos pela Chapa 3 (2/3 do Colégio Eleitoral do CRASC), com 15,18% de representação, vão eleger o novo Presidente do CRASC. Este percentual de representação é o suficiente?
Pergunta 3: Até quando teremos eleição indireta para Presidente do CRA e CFA?

Alguém pode me responder?

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O que impede o PDCA de girar na área pública?



1. Utilizando a roda já criada.

O método PDCA foi desenvolvido na década de 30 pelo americano Shewhart e divulgado mundialmente por Dening, e serve para medir e avaliar processos, contemplando, inclusive o planejamento e a documentação destes.

O método é simples e contempla 4 (quatro) estágios:

P (Plan = Planejar)
D (Do = Executar)
C (Check = Verificar)
A (Action = Agir)

O Planejamento é uma função administrativa, responsável por construir os caminhos para um referencial futuro. Tratando-se de um processo de deliberação que identifica os recursos existentes, estrutura as ações, identifica responsabilidades, fixa metas e prazos para serem cumpridos, tendo em vista o alcance de uma visão futura compartilhada, que contemple no mínimo o compromisso da organização com a sustentabilidade socioambiental e a possibilidade de contingências.

A execução é função administrativa responsável por realizar o plano de trabalho traçado pelo planejamento, utilizando-se dos recursos previamente identificados, quantificados e customizados.

O Controle é função administrativa, responsável pela verificação permanente das atividades realizadas, aferindo se todas as tarefas que estão sendo realizadas, estão de acordo com o que foi planejado. Esta verificação contempla: o monitoramento do cronograma de execução, a qualidade dos insumos utilizados, as competências exigidas das pessoas que realizam as tarefas, o fluxo financeiro, e o ambiente em toda sua dimensão ergonômica, funcional e de compromisso assumido com a sustentabilidade socioambiental.

O Agir é a função administrativa que impõe para o gestor, a tomada de decisão necessária para solucionar problemas identificados pelo controle, que podem comprometer parcial ou totalmente, o plano de ação aprovado.

2. Roda furada

Nas organizações públicas, o ciclo do PDCA não gira em razão de alguns dos motivos relacionados a seguir:
* O planejamento não está a serviço da sociedade e sim do poder político. Neste cenário, a alocação de recursos previamente negociados, dita a estruturação das ações públicas.
* A execução não é cobrada e de preferência é terceirizada.
* O controle é realizado meses ou anos após o término de uma tarefa, apenas em documentos que aceitam tudo.
* O agir corretivo não existe em razão do procedimento anterior que somente ocorre no momento após a finalização da tarefa.

3. Sem macaco para trocar a roda

A tragédia da área pública ganha uma nova dimensão com a visão distorcida de que a função controle precisa ser ampliada. E aí se cria cargos de Auditores, Inspetores, Controle Interno, etc, com salários diferenciados e poderes especiais, para fazer a estrutura organizacional andar. A visão departamentalizada do controle, criou seres iluminados, únicos com a capacidade de identificar buracos e propor rigorosos pareceres, indicando a melhor maneira de tapar o buraco recém descoberto. É uma nova forma de brincar com o dinheiro do contribuinte.

4. Uma roda que não fura

Os gestores públicos precisam urgentemente compreender que o termo unicidade impõem a todos os participantes de uma organização, a visão compartilhada do que precisa ser feito, o comprometimento comum com o resultado, a valorização integral de todos os integrantes da organização, o senso de que responsabilidade socioambiental, e a ética como guia, na geração de resultados.
Planejar, executar, controlar e agir, são atividades permanentes, que devem estar presentes em todos os momentos de um processo produtivo. As competência exigidas para determinada tarefa de um processo é que dita a maior ou menor capacidade operacional requerida, e o salário a ser pago, sendo no entanto, a responsabilidade pela execução de igual valor para todos, num ambiente de visão compartilhado.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Um poder da sociedade calado

Nesta eleição um fato me chamou atenção: a omissão do Poder Social.

Os candidatos trocam acusações, abusam de argumentos falaciosos e mascaram a realidade social e econômica do país, sem qualquer tipo de constrangimento, com o objetivo específico de manipular os eleitores.

Quem deveria agir em defesa do cidadão, esclarecendo, denunciando os dados incorretos divulgados, que distorcem a verdade para a população, assiste a tudo calado, não se pronuncia, e não age.

Fica a pergunta: quando o Ministério Público vai agir? Depois que o processo eleitoral terminar? Como será possível consertar o estrago feito por um dado incorreto divulgado como verdadeiro?

Fuga Psíquica


Isto não Pode! Quando utilizada para se enganar e enganar os mais incautos, representa um tipo de fuga psíquica, que gera stress, pela decisão não tomada, em razão do medo de um resultado que não pode ser controlado.
Se o futuro é incerto, negar e refutar ideias que permitam eliminar incertezas, não é uma manifestação sadia, para quem precisa decidir e zerar seus medos.
Agora, não é possível imputar, ao desejo futuro ou a outros, a culpa pela insegurança de uma decisão que não se quer tomar.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Marco Zero e a opção de recomeçar


Eu sempre fico muito entusiasmado como o período que antecede uma mudança. Não consigo visualizar atitudes de indiferença, quando existem protagonistas, que podem efetivamente criar novas oportunidades, de alavancar a cidadania e dar uma nova dimensão para as ações do Estado.

Urge o tempo do Estado conhecer a “casa” por dentro, através de um diagnóstico que contemple: as demandas, as oportunidades, e os problemas que precisam ser eliminados. E, endireitar este estado de coisas, requer clareza do que precisa ser feito, prazo, responsabilidade, recursos, e metas, para acertar o que por lá se passa.

Austeridade, sacrifício, cortes, mais esforços, mais sacrifícios, só valem se consultados, ou decorrentes de opções negociadas. Não existe mais espaço e tempo para andar ao sabor do vento, sem rumo, ou a deriva.

Existe ainda, a necessidade de fixar um “Marco ZERO”, como divisor temporal, do início das ações necessárias para o futuro desejado. Para isso, as novas medidas definidas devem começar a se concretizar a partir da data fixada, para os próximos MUITOS ANOS.

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Fernando Pessoa

Oi, vamos chegar a um consenso

A exigência de verdade que devemos cultivar, tem de começar por incidir sobre a verdade do que pensamos. Nossas ideias velhas ou novas, podem ser resistentes a novidade ou a interesses que podem nos prejudicar ou não, mas não podem servir de pretexto para aprisionar.

A autocrítica e a crítica, enquanto avaliadores da verdade, deve ser uma atitude cultivada por todos nós, na medida em que é condição, que estabelece a confiança para a razão, seguir em frente a esse caminho difícil e inacabado, da verdade que ainda está além do meu alcance.

Os fatos e a verdade se estabelecem por consenso. Talvez seja por isso, que algumas pessoas não conseguem entender, que a verdade não possuí apenas um lado. O fato pode ser único, mas os olhares são diferentes. Então, com quem está a verdade?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Condomínio fechado


No Código Penal, a apropriação indébita é prevista no art. 168, que descreve o crime como:

Apropriação indébita
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

O pressuposto da apropriação indébita é que inicialmente o agente recebe a posse ou detenção lícita da coisa, mesmo sem ter ainda o propósito de cometer um crime. No momento subsequente, quando ele teria que restituir (devolver) a coisa, ele se nega a fazê-lo, ou passa a agir em relação à coisa como se fosse dono.

No Estado, este tipo penal ainda é pouco denunciado, mas sua prática é observada em várias organizações públicas. O exemplo mais comum deste delito, é a apropriação da Administração Superior da Instituição, por uma categoria profissional, que passa usufruir todas as vantagens possíveis, em benefício próprio, em detrimento até mesmo da sociedade, a que deveria servir.
Esta modalidade de apropriação ocorre geralmente quando grupos corporativos se apoderam do comando gerencial da organização, e consolidam sua permanência através de construções jurídicas, para benefício próprio, e que impede o acesso gerencial superior para as demais categorias profissionais, que não fazem parte do grupo.

Como curiosidade, cabe ressaltar, que os agentes deste delito, agem se utilizando de falácias, e perversidade, na medida em que procuram reintroduzir na administração pública, a relação de “Senhor” e “Servo” da idade média, com direito a fogueira (ou geladeira) para aqueles que não se submetem a ditadura dos usurpadores públicos.

De posse da instituição, o gestor público desaparece e surge o gestor da associação ou melhor, do condomínio, na medida em o foco da gestão passa a ser o de priorizar recursos públicos para atender as demandas corporativas, com vistas a perpetuar a posse e o poder.

Para que o tipo penal da apropriação indébita, alcance estes agentes, é preciso entender que coisa alheia, pode ser a Gestão Pública de uma Instituição, e que o conceito de móvel, não está limitado a bem material.

Outro caminho, para o resgate das instituições públicas de posse de grupos corporativos, para a sociedade, é o caminho da democracia plena, na eleição de dirigentes destas instituições.

O resgate dos mineiros no Chile

Terminou com sucesso o resgate de todos os 33 mineiros que estavam confinados, desde o dia 5 de agosto, a uma profundidade de quase 700 metros, numa mina de cobre em Copiapó, no norte do Chile. Foi uma operação de resgate, sem precedentes na história da mineração, que deve contribuir nos estudos sobre o isolamento humano, na medida em que serão avaliadas as condições de saude e aspectos psicológicos decorrentes do isolamento vivenciado.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Extorsão dentro do Estado

Existe uma forma sutil de extorsão praticada entre gestores públicos, da mesma esfera ou de esferas diferentes de poder. Nesta forma de extorsão, o dinheiro que se busca, não é o negociado para atender as demandas da sociedade, mas sim, o que decorre de transação, para omitir a denúncia de ato criminoso.

Os agentes deste crime agem em conluio, e o arranjo financeiro, com recursos públicos, garante o silêncio e a omissão. Fora do Gabinete, a conversa é sempre outra: um faz alarde sobre sua capacidade gerencial em alavancar recursos, e o outro, sua espetacular preocupação com a instituição beneficiada.

Mas como em qualquer crime, os sinais para desmascarar estes criminosos, estão evidentes em fatos que precisam de uma releitura sobre a origem de recursos, que de forma normal não chegariam à instituição.

Esta pratica criminosa tem garantido a impunidade para gestores criminosos e a sobrevivência de gestores medíocres, que ficam satisfeitos apenas em alimentar o próprio ego, o próprio bolso, e a mediocridade de uma vida sem sintonia com o coletivo e bem comum.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O que te prende?


Às vezes, as correntes que nos impedem de sermos livres são mais mentais do que físicas.

Pensamentos Secretos


O grande conflito de ideias ocorre quando se procura argumentos na filosofia ou na ciência para a paz de consciência. Aparentemente procuramos a racionalidade, mas o que passa no mundo das ideias é indecifrável em razão da experiência individual de cada pessoa.
A característica do enredo mental, pode abrigar tanto um discussão intelectual quanto uma discussão moral, no debate do que se passa em nossa consciência. Contudo, os argumentos, não podem se apropriar do engano, para justificar qualquer tipo de conduta, na medida em que estaríamos sendo inconscientes.
Para a consciência, a paz que se procura é uma percepção de si, escondida em pensamentos secretos, manifestos em palavras ou frases, que ainda não adquirimos consciência. Esta percepção, não pode ser o resultado da imaginação ou de uma vontade, mas sim, o resultado de uma especulação mental consciente.
Ao adquirimos consciência, os pensamentos secretos passam a servir de abrigo para a liberdade de pensar, que agora compreende que não pode mais permitir que o moralismo e o pecado, encontre abrigo em sua mente.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A Corte dos Padrinhos - Eliana Calmon


Eu também gostei dela!
REVISTA VEJA JUSTIÇA (110)
MINISTROS ATIVOS MINISTRA ELIANA CALMON
"A nova corregedora do Conselho Nacional de Justiça diz que é comum a troca de favores entre magistrados e políticos
A ministra Eliana Calmon é conhecida no mundo jurídico por chamar as coisas pelo que são. Há onze anos no Superior Tribunal de Justiça (STJ), Eliana já se envolveu em brigas ferozes com colegas — a mais recente delas com então presidente César Asfor Rocha. Recém-empossada no cargo de corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a ministra passa a deter, pelos próximos dois anos, a missão de fiscalizar o desempenho de juizes de todo país. A tarefa será árdua. Criado oficialmente em 2004, o CNJ nasceu sob críticas dos juizes, que rejeitavam idéia de ser submetidos a um órgão de controle externo. Nos últimos dois anos, o conselho abriu mais de 100 processos para investigar a magistratura e afastou 34.
Em entrevista a VEJA, Eliana Calmon mostra o porquê de sua fama. Ela diz que o Judiciárioestá contaminado pela politicagem miúda o que faz com que juízes produzam decisões sob medida para atender aos interesses dos políticos, que, por sua são os patrocinadores das indicações dos ministros.
Por que nos últimos anos pipocaram tantas denúncias de corrupção no Judiciário?
Durante anos, ninguém tomou conta dos juizes, pouco se fiscalizou, corrupção começa embaixo. Não é incomum um desembargador corrupto usar o juiz de primeira instância como escudo para suas ações. Ele telefona para o juiz e lhe pede uma liminar, um habeas corpus ou uma sentença. Os juizes que se sujeitam a isso são candidatos naturais a futuras promoções. Os que se negam a fazer esse tipo de coisa, os corretos, ficam onde estão.
A senhora quer dizer que a ascensão funcional na magistratura depende dessa troca de favores?
O ideal é que as promoções acontecessem por mérito. Hoje é a política que define o preenchimento de vagas nos tribunais superiores, por exemplo. Os piores magistrados terminam sendo os mais louvados. O ignorante, o despreparado, não cria problema com ninguém porque sabe que num embate ele levará a pior. Esse chegará ao topo do Judiciário.
Esse problema atinge também os tribunais superiores, onde as nomeações são feitas pelo presidente da República?
Estamos falando de outra questão muito séria. É como o braço político se infiltra no PoderJudiciário. Recentemente, para atender a um pedido político, o STJ chegou à conclusão de que denúncia anônima não pode ser considerada pelo tribunal.
A tese que a senhora critica foi usada pelo ministro César Asfor Rocha para trancar a Operação Castelo de Areia, que investigou pagamentos da empreiteira Camargo Corrêa a vários políticos.
É uma tese equivocada, que serve muito bem a interesses políticos. O STJchegou à conclusão de que denúncia anônima não pode ser considerada pelo tribunal. De fato, uma simples carta apócrifa não deve ser considerada. Mas, se a Polícia Federal recebe a denúncia, investiga e vê que é verdadeira, e a investigação chega ao tribunal com todas as provas, você vai desconsiderar? Tem cabimento isso? Não tem. A denúncia anônima só vale quando o denunciado é um traficante? Há uma mistura e uma intimidade indecente com o poder.
Existe essa relação de subserviência da Justiça ao mundo da política?
Para ascender na carreira, o juiz precisa dos políticos. Nos tribunais superiores, o critério é única e exclusivamente político.
Mas a senhora, como todos os demais ministros, chegou ao STJ por meio desse mecanismo.
Certa vez me perguntaram se eu tinha padrinhos políticos. Eu disse: "Claro, se não tivesse, não estaria aqui". Eu sou fruto de um sistema. Para entrar num tribunal como o STJ, seu nome tem de primeiro passar pelo crivo dos ministros, depois do presidente da República e ainda do Senado. O ministro escolhido sai devendo a todo mundo.
No caso da senhora, alguém já tentou cobrar a fatura depois?
Nunca. Eles têm medo desse meu jeito. Eu não sou a única rebelde nesse sistema, mas sou uma rebelde que fala. Colegas que, quando chegam para montar o gabinete, não têm o direito de escolher um assessor sequer, porque já está tudo preenchido por indicacão política.
Há um assunto tabu na Justiça que é a atuação de advogados que também são filhos ou parentes de ministros. Como a senhora observa essa prática?
Infelizmente, é uma realidade, que inclusive já denunciei no STJ. Mas a gente sabe que continua e não tem regra para coibir. É um problema muitio sério. Eles vendem a imagem dos ministros. Dizem que têm trânsito na corte e exibem isso a seus clientes.
E como resolver esse problema?
Não há lei que resolva isso. É falta de caráter. Esses filhos de ministros tinham de ter estofo moral para saber disso. Normalmente, eles nem sequer fazem uma sustentação oral no tribunal. De modo geral, eles não botam procuração nos autos, não escrevem. Na hora do julgamento, aparecem para entregar memoriais que eles nem sequer escreveram. Quase sempre é só lobby.
Como corregedora, o que a senhora pretende fazer?
Nós, magistrados, temos tendência a ficar prepotentes e vaidosos. Isso faz com que o juiz se ache um super-homem decidindo a vida alheia. Nossa roupa tem renda, botão, cinturão, fivela, uma mangona, uma camisa por dentro com gola de ponta virada. Não pode. Essas togas, essas vestes talares, essa prática de entrar em fila indiana, tudo isso faz com que a gente fique cada vez mais inflado. Precisamos ter cuidado para ter práticas de humildade dentro do Judiciário. É preciso acabar com essa doença que é a "juizite"".
Material retirado do blog:
http://doministeriopublico.blogspot.com/2010/10/corte-dos-padrinhos-eliana-calmon.html

domingo, 3 de outubro de 2010

O Brasil, o voto, as pesquisas e o segundo turno da eleição


Para a imprensa e os Institutos de Pesquisas que pretendiam decidir a eleição com tanta antecedência, fica a resposta do eleitor: o que conta é o Voto no dia da eleição.
Contrariando as adivinhações, recados espirituais, e as estatísticas ilícitas, o Brasil terá um segundo turno para Presidente.
Lembre: VOTO LEGAL, não tem preço e não acompanha pesquisas.

sábado, 2 de outubro de 2010

A internet vai acabar com a nossa liberdade e privacidade?


“A tendência nas redes sociais já não é fazer amigos, mas desamigar, banir pessoas das nossas listas de contatos. Tudo porque os excessos de realidade virtual já começaram a chamar-nos à razão. A privacidade é a pedra de toque desta discussão, embora a maioria das pessoas ainda se exponha de tal forma que deixou de ser segredo o que comem, sonham ou fazem na cama (…)

A festa da adesão às redes sociais continua a ser de arromba e os pudores ficam à porta. A ideia que persiste é que quem não está na rede está fora do mundo. E quem trata as redes sociais por tu, acaba por se sentir pressionado a escrever e a publicar imagens o mais sugestivas e reveladoras possíveis, para captar a atenção dos outros.

A fasquia vai ficando cada vez mais alta e a capacidade de controle cada vez mais reduzida. Ser visto, ser conhecido, alargar o grupo de conhecimentos, ganhar estatuto e visibilidade social são elementos de forte sedução (…).

Os portugueses, por exemplo, têm uma média de cem amigos na internet. Visto que praticamente ninguém tem cem amigos na vida real, com quem nos andamos a relacionar?
A primeira característica dos relacionamentos virtuais é a sua quantidade. São muitos, demasiados, rápidos e fáceis de fazer. Quanto tempo demoramos a fazer um amigo, fora dos computadores? Quase uma vida! Mas nos écrans está à distância de um click no botão “add a friend”. E é comum engordarmos a nossa lista de “amigos” com conhecidos dos conhecidos. Só para ver no que dá. Até descobrir que o pecado mora ao lado. Na internet podemos tirar partido do dom da ubiquidade. Uma só pessoa pode estar presente em várias redes sociais em simultâneo. A história de muitos de nós começa cedo.

Ainda crianças, começamos a aceder ao hi5 para namorar e fazer amigos, depois passamos a partilhar gostos e pensamentos no Facebook e ligámo-nos ao Twitter para seguir as novidades, notícias e contactar com os «famosos». Quem quis fortalecer contactos profissionais alistou-se nas fileiras do Linkedin. A nova mania dos utilizadores das redes sociais é o Foursquare, um programa que localiza geograficamente, passo a passo, os nossos conhecidos. Basta ter um iPhone ou um Blackberry. Já não há armários onde nos escondamos.

É fácil cair na rede e ficar preso nas aliciantes teias da notoriedade global. A questão é o utilizador-tipo, o homem ou mulher comuns, com conhecimentos gerais de utilização na internet, não tem consciência plena dos mecanismos automáticos destas redes sociais. Por exemplo, quando uma fotografia ou um comentário inocente é «postado» no nosso perfil do Facebook, não sabemos qual o seu destino final. De repente, uma imagem ingénua da nossa vida privada pode transformar-se num pesadelo. Basta ser retirada do seu contexto, quando partilhada com centenas de pessoas, desde o amigo de infância ao vagamente conhecido, passando pelo contacto de verão, que, afinal, mais não é do que um desconhecido. Sem esquecer o chefe que também pode lá estar a ver o que não deve.

São fragmentos das nossas vidas que publicados sem critérios por nós definidos e descontextualizados, transformam-nos noutra pessoa, com intenções diferentes das originais. Afinal, qual o valor da nossa privacidade? Quais as consequências futuras de uma geração que já nasceu com a sua privacidade exposta nas montras virtuais? Que valores vão balizar a nossa sociedade? O problema é que a definição e os limites da nossa vida privada estão a ser redefinidos, mas nós não estamos a participar activa e conscientemente neste processo.”

Artigo de Bernardo Mendonça e Christiana Martins, publicado na Revista Única (páginas 28 a 30) "A internet vai acabar com a nossa liberdade e privacidade?" e no blog Rerum natura.