Este texto é uma reprodução, e indicado para todas as pessoas que sofrem de pertubações, transtornos, distúrbios, ou desordens mentais, principalmente em razão de cargos que ocupam de natureza sindical ou de comando na área publica.
Exercícios de Consciência Ampliada
- Tem uma coisa que me preocupa nessa conversa.
- O que?
- O senhor fala em excessos de intencionalidade.
- Como assim?
- As pessoas de Mente Pequena tem sempre uma idéia só na cabeça.
- As pessoas de Mente Pequena são obcecadas por uma coisa de cada vez.
- O senhor pode nos dar exemplos?
- Claro. Imagine que nós temos dois grandes Mundos.
- Dois mundos?
- Exato. Dois mundos. O Mundo das coisas Realizadas, e o Mundo das coisas Irrealizadas. Certo?
- Certo.
- Quando a gente acorda, pela manhã, você acha que a nossa preocupação é com o primeiro ou o segundo Mundo?
- Com certeza, todos acordamos obcecados pelas coisas Irrealizadas.
- Perfeito. Estamos preocupados com a tarefa que ainda não foi concluída, a conta que ainda não foi paga, o projeto que ainda não saiu do papel...
- Estou ouvindo.
- Todos temos a tarefa da Realização, que, como o nome já diz, consiste em trazer para o Real as coisas que estão apenas no mundo das idéias.
- Fale um pouco mais sobre isso.
- Imagine que você vem ao mundo com uma série de potencialidades, inscritas na sua mente e nos seus genes. Como um gigantesco baralho, e que você recebesse uma certa quantidade de cartas. A sua tarefa é desenvolver o melhor jogo possível com as cartas que você tem, de preferência sem deixar o jogo parar.
- Idéia interessante, essa.
- Obrigado. Quando você joga bem com as suas cartas, vai conseguindo comprar outras melhores, até ficar com o melhor jogo possível nas mãos, correto?
- Corretíssimo.
- Todo mundo que vem a este planeta tem essa tarefa: jogar da melhor forma possível, com o tempo e com as cartas que temos à nossa disposição. Com esforço, com perseverança, vamos transformando um jogo ruim em um jogo bom.
- Se tivermos a Mente Grande.
- Agora você chegou ao ponto. A Mente Pequena tem sempre as melhores desculpas para tudo: o outro tem um pai mais rico, a outra é mais bonita, eu ganhei as cartas piores, meu jogo é impossível de melhorar! Coitado de me Euzinho, ele está sempre sendo prejudicado por algo ou por alguém. Eu sempre sou vítima das circunstâncias! E assim por diante...
- A Mente Pequena não quer jogar.
- Pior do que isso, a Mente Pequena Não Deixa jogar. Quem só quer vencer o tempo todo, acaba estragando o jogo. A Mente Pequena pretende controlar o jogo. Um jogo controlado não é um jogo.
- É uma farsa.
- É uma farsa, exatamente... A Mente Pequena não deixa o jogo ir para frente, ou quer ficar grudada em alguém que a carregue em frente, sem precisar jogar o jogo.
- Espere um pouquinho. É por isso que a Mente Pequena tem excesso de intencionalidade?
- (Pensativo) Acho que agora estou entendendo a relação que você está querendo estabelecer. É isso mesmo, meu bem. A Mente Pequena tem uma intenção só, que é ganhar. Os verdadeiros campeões querem muito mais do que ganhar.
- O senhor pode dar um exemplo mais concreto?
- Claro que posso. O Brasil estava jogando a fase classificatória da Liga Mundial de Vôlei. Já estava em primeiro lugar na chave, o último jogo era contra uma seleção mais fraca, que já estava desclassificada. No primeiro set, o time entrou relaxado e perdeu. O técnico Bernardinho deu uma tremenda bronca nos caras, eles jogaram sério e ganharam os outros três sets sem problemas. Tudo tranqüilo. Certo?
- Certo.
- Errado (Risos). Completamente errado. Toda a crônica presente apressou-se em afirmar que a queda de concentração tinha sido natural, o jogo não tinha tanto valor em termos de classificação e o time, afinal de contas, tinha se acertado bem dentro da quadra. Só uma pessoa discordava dessa visão.
- Quem?
- O Bernardinho. Ele estava puto da vida no final do jogo, se me perdoa a expressão forte.
- Por que ele estava puto da vida?
- Porque ele queria muito mais do que a vitória. Ele vociferou que o time estava com a cabeça em outro lugar, já pensava na próxima fase, aquilo estava errado, muito errado! O time precisava encerrar muito bem essa fase para poder se preparar para a outra. Ele queria muito mais do que a classificação.
- O que ele queria?
- Ele queria um time concentrado no Aqui-Agora! Jogando qualquer ponto como se fosse o último, sem relaxar antes da hora. Ele queria um time de campeões em todos os lugares, em todas as situações. Ele queria um time com fome de continuar o jogo, com fome de jogar o jogo ponto a ponto. Não um time só preocupado com o regulamento.
- É verdade.
- Quando chegou à final, houve um momento que foi o mais dramático de todos.
- Qual?
- Estava dois sets a um para o adversário. Ele abriram cinco pontos no quarto set. Tudo parecia perdido. Se a cabeça dos jogadores pensasse: eu preciso tirar esses cinco pontos de vantagem, depois preciso ganhar o Tie Break e só aí vou ser campeão...Isso não desanima qualquer um?
- Sim.
- Qual era o roteiro de um time normal? Dar um último gás, disputar bem o último set e rumar para uma derrota honrosa, que naquele momento parecia inevitável, não é?
- Esse seria o comportamento de um time com Mente Pequena.
- Exato.
- Mas não foi assim que o time pensou.
- Não. De jeito nenhum. O time disputou cada ponto como se fosse o último. O time não jogou para vencer: Jogou para não deixar o jogo terminar.
- A vitória foi apenas a conseqüência dessa Mente Grande.
- Perfeito! Agora você pegou mesmo o espírito da coisa! A vitória é Sempre uma Conseqüência para a Mente Grande. Primeiro você joga, imerso no Aqui-Agora. Depois a Vitória vem, como uma Conseqüência. Sabe o que isso significa?
- Não.
- Que a Vitória pode sempre ser almejada, nunca planejada.
- Mas o Bernardinho é justamente conhecido por planejar absolutamente tudo.
- Ele pode planejar absolutamente tudo. Menos a Vitória. A Vitória é a posteriori. A priori é a Mente Grande do vencedor, que quer gozar o Jogo minuto a minuto, não só o último ponto. Aliás, teve um detalhe que pouca gente notou.
- Qual?
- Quando o time ganhou o último ponto, todo mundo ficou parado, olhando para o juiz, meio incrédulo daquele jogo maravilhoso finalmente ter acabado.
- É mesmo? Eu não notei isso não.
- Pois é. Sabe quem foi o primeiro que saiu pulando feito uma perereca comemorando a Grande Vitória?
- Não.
- Foi o Bernardinho. Só quando os jogadores viram o chefe pulando para dentro da quadra perceberam que eram Os Campeões. Era como se eles tivessem esquecido que a coisa versava sobre ser ou não ser campeão. E estavam preparados para jogar até o fim dos tempos, para não deixar o jogo acabar.
Fiquei um pouco em silêncio, saboreando aquela imagem linda. Ele bateu em meus ombros.
- Hoje você entendeu bem a nossa conversa, não foi?
- E quero entender cada vez mais, cada vez melhor.
Rimos gostosamente.
- Na próxima conversa, eu vou querer saber mais sobre o Mundo do Realizado e do Irrealizado, OK?
- Claro. O que você disser. Saí de lá pensando em jogos e disputas. Como a própria Vida. Um trecho de uma música do Lobão me ocorreu: "Vida louca, vida/ Vida imensa"...
Foi a última coisa que eu pensei antes de pegar o elevador.
Vida imensa.
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