quarta-feira, 24 de junho de 2009

Dia de São João e sua origem


Em duas ocasiões durante o ano, o Sol, em seu movimento aparente pelo céu apresenta um afastamento máximo em relação ao Equador Celeste. Como em junho este afastamento se dá para o Norte, esse solstício marca o inicio do nosso inverno (e, portanto, do verão no Hemisfério Norte). Assim, junho é mês de solstício, do latim "sol estático". O outro solstício, o de dezembro, que acontece quando o Sol atinge seu afastamento máximo para o Sul e, portanto, denuncia o inicio do nosso verão, e do inverno no Hemisfério Norte.


Esse movimento aparente do Sol (um reflexo do real movimento da Terra) é conhecido pela humanidade há muito tempo, desde as mais antigas civilizações. E por se tratarem de momentos importantes do ano — a noite mais longa, no caso do solstício de inverno, ou a mais curta, no de verão, os solstícios sempre foram comemorados com certo fervor.


O homem primitivo distinguia a diferença entre duas épocas, uma de frio e uma de calor, conceito que, inicialmente, lhe serviu de base para organizar o trabalho agrícola. Graças a isso é que surgiram os cultos solares, com o Sol sendo proclamado como fonte de calor e de luz, o rei dos céus e o soberano do mundo, com influência marcante sobre todas as religiões e crenças posteriores da humanidade. E, desde a época das antigas civilizações, o homem imaginou os solstícios como aberturas opostas do céu, como portas, por onde o Sol entrava e saía, ao terminar o seu curso, em cada círculo tropical.





A personificação de tal conceito, no panteão romano, foi o deus Janus, representado como divindade bifásica, graças à sua marcha pendular entre os trópicos; o seu próprio nome mostra essa implicação, já que deriva de janua, palavra latina que significa porta. Por isso, ele era, também, conhecido como Janitur, ou seja, porteiro, sendo representado com um molho de chaves na mão, como guardião das portas do céu. Posteriormente, essa alegoria passaria, através da tradição popular cristã, para São Pedro, mas sem qualquer relação com o solstício.

Janus era um deus bicéfalo, com duas faces simetricamente opostas, cujo significado simbolizava a tradição de olhar, uma das faces, constantemente, para o passado, e a outra, para o futuro. Os Césares da Roma imperial, em suas celebrações e para dar ingresso ao Sol nos dois hemisférios celestes, antepunham o deus Janus, para presidir todos os começos de iniciação, por atribuir-lhe a guarda das chaves.


Tradicionalmente, tanto para o mundo oriental, quanto para o ocidental, o solstício de Câncer, ou da Esperança, alusivo a São João Batista (verão no hemisfério Norte e inverno no hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas mortais e, por isso, chamada de Porta dos Homens, enquanto que o solstício de Capricórnio, ou do Reconhecimento, alusivo a São João Evangelista (inverno no hemisfério Norte e verão no hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas imortais e, por isso, denominada Porta dos Deuses. Para os antigos egípcios, o solstício de Câncer (Porta dos Homens) era consagrado ao deus Anúbis; os antigos gregos o consagravam ao deus Hermes. Anúbis e Hermes eram, na mitologia desses povos, os encarregados de conduzir as almas ao mundo extraterreno.


A importância dessa representação das portas solsticiais pode ser encontrada com o auxílio do simbolismo cristão, pois, as festas dos solstícios são, em última análise, as festas de São João Batista e de São João Evangelista. São dois São João e há, aí, uma evidente relação com o deus romano Janus e suas duas faces: o futuro e o passado, o futuro que deve ser construído à luz do passado. Sob uma visão simbólica, os dois encontram-se num momento de transição, com o fim de um grande ano cósmico e o começo de um novo, que marca o nascimento de Jesus: um anuncia a sua vinda e o outro propaga a sua palavra. Foi a semelhança entre as palavras Janus e Joannes (João, que, em hebraico é Ieho-hannam = graça de Deus) que facilitou a troca do Janus pagão pelo João cristão, com a finalidade de extirpar uma tradição “pagã”, que se chocava com o cristianismo. E foi desta maneira que os dois São João foram associados aos solstícios e presidem às festas solsticiais.



Continua, aí, a dualidade, princípio da vida: diante de Câncer, Capricórnio; diante dos dias mais longos, do verão, os dias mais curtos, do inverno; diante de São João “do inverno”, com as trevas, Capricórnio e a Porta de Deus, o São João “do verão”, com a luz, Câncer e a Porta dos Homens (vale recordar que, simbolicamente, as condições geográficas são, sempre, as do hemisférios Norte).





Entre os gregos e os romanos, competia às Vestais - sacerdotizas dos templos dedicados a Vesta - a tarefa de preservar aceso o fogo sagrado. É que o fogo é a luz que nos ilumina e mostra a Verdade e a Vida. É ainda o fogo que nos aquece e afaga a nossa rude existência, elemento purificador que constitui um dos quatro elementos - os outros são a Terra, o Ar e a Água.


Entendendo isto melhor: para comemorar o solstício, alguns povos antigos realizavam rituais de invocação de fertilidade. Celtas, bretões, bascos, sardenhos, egípcios, persas, sírios e sumérios acreditavam que, a partir destes rituais, garantiriam o crescimento da vegetação, a fartura nas colheitas e a ocorrência das chuvas. Eles também ofereciam sacrifícios destinados a exorcizar demônios, afugentar infortúnios e maus agouros.



Na era cristã, esses rituais foram considerados pagãos. Como a Igreja Católica não conseguiu terminar com os festejos do solstício de verão, ela adaptou tais comemorações ao dia de São João, 24 de junho.

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