Figra 3: U$ 1 milhão de dólares (100 pacotes de U$ 10.000), cabe em um saco de papel de supermercado ou maleta.
Figura 4: U$ 100 milhões, se encaixa perfeitamente em um palete de madeira padrão.
Pensamentos, meditações, reflexões e ideias sobre uma nova era de responsabilidades - Veritas gratia Veritatis -
Num período de grave crise global em que todos os dias aparecem notícias que nos afundam ainda mais no pessimismo, as boas notícias vêm por vezes de onde menos se espera.
Sabia que - exatamente ao contrário do que é voz corrente - nos últimos 7 anos a temperatura global não aumentou? E que 2008 foi o ano mais fresco da década?
Por surpreendentes que sejam, estas não são afirmações de uma qualquer ave rara ou de um negacionista climático, nem sequer objecto de "consenso científico". São dados experimentais recolhidos pelo Hadley Centre, uma das maiores autoridades mundiais na medição da temperatura global, disponíveis aqui em bruto, sobre a temperatura global na troposfera. Não são opiniões: são fatos. E os fatos falam mais alto do que qualquer opinião. É visível o efeito do gigantesco El Niño de 1998 e depois uma natural descida da temperatura global. E a partir de 2001, essencialmente o aquecimento global parou. Já lá vão 7 anos.
Os gráficos da temperatura superficial da Terra do Hadley Centre mostram essencialmente o mesmo efeito.
O que é extraordinário, mesmo preocupante, é tudo isto continuar a ser omitido pelas entidades responsáveis, como o IPCC ou o Prémio Nobel Pachauri. Fechando os olhos aos factos.
Posted by De Rerum Natura
Para combater o Diabo, lembro-me que minha mãe recomendava invocar Jesus Cristo, Nossa Senhora, o arcanjo Gabriel. Até São Jorge e seu cavalo branco quebravam o galho. Para combater a Corrupção, sempre pensei que a entidade mais poderosa fosse o Ministério Público.
O problema é que o Ministério Público parece estar com dificuldades de relacionamento. Não consegue filtrar suas amizades. Tem aceitado gente de todos os naipes, sem perceber o exercício de vampirismo político de muitos que pousam ao lado dele como defensores da moralidade. Tem aceitado tudo: político sem atestado de bons antecedentes, times de futebol. Até a Brasil Telecom, que se destaca pelos vínculos com Daniel Dantas, entrou para o time e saiu fantasiada de paladina da moralidade. O combate a corrupção banalizou-se. Confunde-se com a propaganda da Coca-Cola, do Lubrax, da Tashibra e de outras marcas - graças à generosidade do Ministério Público. Parece ruim. A gente não sabe mais onde está realmente a Corrupção. Nem qual é seu uniforme.
Quando criança, afugentava o Diabo invocando as entidades celestiais recomendadas por minha mãe. Sempre confiei nelas. Porque não se misturavam com o pessoal do Coisa Ruim. Nunca vi, por exemplo, o arcanjo Gabriel brincado de roda com Lúcifer. Nem o Belzebú na garupa do cavalo de São Jorge. Não davam mole para o Diabo. Ele nunca levava a melhor.
Com a Corrupção parece diferente. Ela usa disfarçes e muitas vezes tem nocauteado a Moralidade. Creio que é por isso - hoje temo mais a Corrupção do que o Diabo.
Texto de José Galvani Alberton, do Blog do Alberton, Visite!
Não há no mundo raça mais necessária e prolífica que a dos imbecis. Se não tivessem existido homens de gênio, seríamos ainda bárbaros, mas sem os estultos o gênero humano teria acabado há muito tempo. E é um grande argumento a favor da Providência que em todos os tempos sejam precisamente eles os mais numerosos e os mais poderosos. Por vezes decorre meio século sem que tenha aparecido um engenho soberano e fora do comum, mas cada dia que desponta vê crescer e florescer “a infinita multidão dos idiotas”.
Por toda a parte os encontramos, mesmo onde não se esperaria, e não somente em lugares humildes, subalternos e obscuros, mas nos primeiros e mais altos. Os imbecis formam, pode-se dizer, o corpo máximo da humanidade, de modo que estudar o homem é o mesmo que definir a natureza dos medíocres e dos idiotas. “São estultos – dizia o argutíssimo Gracian – todos aqueles que parecem tal e a metade daqueles que o não parecem”. E como a maior parte são reconhecíveis à primeira vista como imbecis mesmo pelos inteligentes mais distraídos, é fácil fazer a conta e chegar a uma soma não muito distante do total dos hóspedes do planeta.
Este cálculo parecerá exagerado e irreverente a quem não repare que o verdadeiro imbecil está, a maior parte das vezes, seguríssimo de não sê-lo. Haverá quem reconhece a própria fealdade, a própria miséria e mesmo as próprias infâmias, mas todos, e mais do que nunca os imbecis, estão seguríssimos de ter tanta inteligência que igualam ou superam a maior parte daqueles que vivem junto deles. Não há imbecil por direito de nascimento que no início do dia não julgue imbecis os seus vizinhos e companheiros e precisamente nestes juízos, e por vezes nestes só, se mostra não imbecil, antes clarividente.
Pois que não se deve crer que os imbecis mais sólidos e certos sejam aqueles pobres insensatos que nada fazem e nada dizem. A grande máquina do mundo humano não tem mecânicos mais ativos e universais que os estultos. Não retidos pela dúvida dos reflexivos, nem pela humildade dos grandes, nem pelo sentido de responsabilidade dos sábios superiores, eles dão prova de uma ufania e de uma jactância que ao mesmo tempo conforta e aterra. Cada país está cheio de imbecis que escrevem, que ensinam, que falam aos povos, que tratam de negócios, que administram e dominam, que fabricam teorias e obras de toda a espécie. Ai de nós, se não existissem! Quem jamais se entregaria a tantas daquelas profissões que aviltam o ânimo e entristecem o engenho? Quem realizaria aquelas inumeráveis tarefas mais ou menos úteis que para um espírito contemplativo, nobre e delicado, trariam insuportável fastídio e repulsa?
Os estúpidos vigorosos são, em suma, extremamente necessários ao andamento da família humana e necessaríssimos, de modo particular, aos não imbecis. Desempenham, em relação a eles, uma função semelhante à dos antigos escravos, assumindo alegremente uma infinidade de cargos, de maçadas e de horrores que os gênios rejeitariam e, mais ainda, servem aos grandes como perspectiva de fundo para lhes oferecer maior relevo e realce. Se todos fossem inteligentes, que mérito teria a inteligência? E, se a maior parte fossem gênios onde iria acabar a voluptuosidade do sentimento de predominância sobre os outros?
É, porém, verdade que a convivência com os idiotas é um contínuo martírio para os que idiotas não são. Ponde um grande na companhia de estultos e será, a maior parte das vezes, detestado, troçado ou, pelo menos, incompreeendido. Toda a sua grandeza não lhe servirá senão para sofrer, para calar ou cingir a máscara do medíocre. Mas o desdém que os estúpidos suscitam nos sábios é sinal de pouca sabedoria, de ingratidão e talvez de inveja. Que culpa têm os imbecis da sua imbecilidade? Mesmo se esta fosse curável com uma iluminação sublimadora, a quem cabe curá-la? Não porventura àqueles que tiveram de Deus o dom de um engenho sublime e luminoso?
Ninguém se zanga, se vê uma criatura aleijada e com o nariz roído por uma chaga e devemos irritar-nos, se nos caem diante dos pés, como a todo o momento acontece, homens com a mente deformada, o coração a esgarçar-se e a alma desabitada? Ouvir as suas falas faz mal, porque a idiotia é irritante e contagiosa: termos muito que fazer é desaconselhável porque um imbecil dificilmente chega a ser generoso: querer contradizê-los é loucura porque são a maioria e, de costume, destemidos e teimosos como a estirpe asinina. Pelo que não restam senão dois caminhos: educá-los ou suportá-los. O primeiro partido é por vezes desesperado; o segundo penosíssimo.
E daqui nasce o rancor desdenhoso que os homens de talento mostram para com a infindável aluvião dos idiotas pululantes e imperantes. Mas na aversão dos inteligentes há, por vezes, um fermento de inveja. E não sem motivos porque, entre os imbecis, mais do que no resto dos homens, se encontram os felizes e os poderosos. Quanto mais inteligência mais dor; logo, quanto menos inteligência mais paz e contentamento. Ninguém está mais seguro de si e satisfeito com o seu próprio ser que um estulto perfeito: dentro dele nem tragédias, nem drama, nem angústias, nem desesperos. A alma dá-lhe pouco aborrecimento porque está quase extinta: a única coisa que a entristeceria é aquela característica que durante a vida natural ele ignora, isto é, a de ser um imbecil.
E não é de espantar se, a maior parte das vezes, os imbecis têm mais êxito no mundo do que os grandes talentos. Enquanto estes são obrigados a combater contra si mesmos e, como se não bastasse, até contra todos os medíocres que detestam por instinto todas as formas de superioridade, o imbecil, vá para onde vá, encontra-se entre os seus pares, entre companheiros e irmãos e é, por natural espírito de grupo, ajudado e protegido. O estulto não enuncia senão pensamentos usuais em forma comum e é por isso aprovado pelos seus semelhantes, que são legião, enquanto o gênio tem o terrível vício de contrapor-se às opiniões dominantes e de querer revolucionar, juntamente com o pensamento, a vida dos mais.
Isto explica por que as obras e as gestas dos imbecis são tão abundantemente solicitadas e admiradas. Os julgadores são, quase todos, da mesma bitola e dos mesmos gostos e aprovam com entusiasmo as coisas feitas ou ditas por qualquer um pouco mais hábil do que eles. O favor quase universal que acolhe os frutos da imbecilidade instruída e temerária vai aumentar a já copiosa felicidade daqueles. A obra do grande, ao contrário, não pode ser entendida e admirada senão pelos seus iguais que são, em todas as gerações, pouquíssimos e só com o tempo estes poucos conseguem impô-la, pelo menos em aparência, à servil estima dos mais. E a maior vitória dos estultos é a de constranger os sábios, bastantes vezes, a agir e falar como estultos, seja para passar com maior tranqüilidade a vida, seja para se salvarem nos dias das epidemias agudas de estultície universal.
Mas não se pode dizer que a inteligência raciocinante e esplendente seja a única escada para a grandeza. Por vezes também o gênio, que é a inspiração intermitente e efêmera, pode coexistir com a estupidez. La Fontaine, em sociedade, dava a impressão de um meio estulto e S. José de Copertino parecia o homem mais obtuso do seu tempo. E, contudo, hoje, mesmo os mais incontentáveis admiram no primeiro um grande poeta e os cristãos veneram no outro um santo milagroso.
Não se deve esquecer, enfim, que os homens de gênio não se tornariam famosos se não conseguissem atrair também a admiração dos ignorantes. O velho Voltaire perguntava-se: “Combien de sots faut-il por faire un public?” Mas depois rejubilava ao saber que as platéias de Paris aplaudiam a sua Zaira e o seu Maomet.
Texto de Giovanni Papini - 1905.
O Jornalista Ranier Bragon da Folha de São Paulo, entrevistou deputados, senadores e sindicalistas para traçar uma radiografia das diretorias executivas dos 10 maiores fundos de pensão de estatais federais que reúnem R$ 213 bilhões de reais em suas carteiras de investimentos.
O DNA político que encontrou, apresenta a seguinte composição:
1. PREVI (banco do Brasil), investimentos de R$ 119 bilhões. O presidente, Sérgio Ricardo Silva Rosa é ligado ao ex-ministro Luiz Gushiken do PT.
2. PETROS (Petrobrás), investimentos de R$ 39 bilhões. O presidente, Wagner Pinheiro, foi indicado por Luiz Gushiken, do PT.
3. FUNCEF (Caixa Econômica Federal), investimentos de R$ 31 bilhões. Cinco dos seis integrantes da diretoria executiva fizeram doações ao PT.
4. CETRUS (Banco Central), investimentos de R$ 7,5 bilhões. O presidente Hélio Brasileiro é filiado ao DEM.
5. REAL GRANDEZA (Furnas), investimentos de R$ 5,7 bilhões. O presidente Sérgio Wilson, ligado ao ex-presidente Itamar Franco.
6. FABES (BNDES), investimentos de R$ 4,6 bilhões. O Diretor Superintendente, Sebastião José Martins, é ligado ao PT.
7. POSTALIS (Correios), investimentos de R$ 4,2 bilhões. Direção com vinculo no PMDB.
8. FACHESF (Companhia Energética do São Francisco), Investimentos de R$ 2,7 bilhões. Diretoria ligada ao Deputado federal Fernando ferro do PT-PE.
9. REFER (Rede Ferroviária), investimentos de R$ 2,3 bilhões. Diretoria vinculada ao PT-RJ.
10. ELETROS (Eletrobrás), investimentos de R$ 2,2 bilhões de reais. Diretoria ligada ao PMDB.
* Dados retirados do artigo publicado: PT tem diretores em 7 dos 10 maiores fundos, Jornal Folha de São Paulo, pág. A8, do dia 8 de março de 2009.
O presidente da Abrapp – Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar, José de Souza Mendonça, defendeu em nota dizendo que a indicação de nomes é corriqueira. Fica a pergunta, a indicação ou eleição para os postos de comando deveriam atender ou não exclusivamente critérios técnicos?
A cada denúncia fica a sensação que o Ministério Público precisa crescer muito, para poder fiscalizar efetivamente o cumprimento das leis. Se os critérios técnicos de eleição de uma diretoria não são observados, como fica a gestão dos recursos das contribuições do empregado e do empregador? A denúncia de doação de recursos dos fundos de pensão é ato criminoso que precisa ser apurado. Dinheiro de fundo de pensão é para pagar aposentadoria e pensões e não para financiar partidos políticos através de doações.
"Mesmo as leis mais bem ordenadas são impotentes diante dos costumes." O velho Maquiavel sempre mata a charada. Só faltou dizer que, num longínquo futuro, o axioma flagraria a imagem sem retoques de um país chamado Brasil. Pois aqui as leis se dobram às linhas sinuosas do tempo, adaptam-se às interpretações personalistas, perdem o sentido da perenidade. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, denuncia a ilegalidade do repasse de dinheiro público a movimentos que invadem terras e praticam assassinatos. O que acontece? Ganha do MST, em resposta, a pecha de juiz que "solta banqueiros corruptos". Atente, leitor, para a gravidade: a maior autoridade do Poder Judiciário, ao pregar o império da lei e da ordem, é tratado como criminoso. Por que esse movimento não é levado à barra dos tribunais? Porque o jeitinho brasileiro - os tais costumes - o esconde. Como não tem CNPJ, recebe dinheiro de associações e cooperativas para agir na ilegalidade. E os quatro assassinatos de seguranças de fazendas em Pernambuco, que ele, MST, assumiu? Ah, isso faz parte de uma "maneira mais arrojada" de atuar, segundo o ministro da Justiça. Parece mais um elogio.
Afinal, por que uma denúncia de sérias proporções, feita pelo presidente do STF, vai direto para o esgoto? A gramática política do Ocidente responde: a accountability, que é o conceito apropriado, está capenga, ou seja, as autoridades que se obrigam a prestar contas de seus atos não o fazem. A responsabilização é apenas um enfeite na prateleira institucional. Autoridades não se sentem obrigadas a dar visibilidade a seus atos. Desleixos, quebras da ordem, ditos que se perdem no esquecimento, cobranças sem resultados e respostas enviesadas constituem a argamassa para a decomposição do Estado democrático. O procurador-geral Antonio Fernando de Souza reage ao presidente do Supremo e diz que o Ministério Público apura o desvio de verbas há tempos. Gilmar responde cobrando rapidez. A imagem que se extrai é a do chorume, aquela substância líquida que resulta do processo de putrefação de matérias orgânicas e se encontra nos lixões e aterros sanitários. Há uma pasta apodrecida, em decantação, que se esparrama pelos lixos de nossas instituições. A lerdeza nas apurações é fonte da massa em deterioração.
A degradação de elementos é tão visível que já não provoca comoção. Os pacotes de reformas (política e tributária) vão para os porões do chorume. Não dá mais para acreditar neles. Fala-se, agora, em projeto de reforma política oriundo do Executivo. Anotem a contrafação. A chamada mãe de todas as reformas virá do paizão com nome de Executivo. Dá para acreditar, sabendo que o nosso presidencialismo, de cunho absolutista, jamais se desgarrará dos nacos de poder que abastecem seu pantagruélico estômago? As famigeradas medidas provisórias, tão combatidas por todos e irremovíveis como nunca, seguem o mesmo rumo: os ralos do chorume.
O controle democrático, vale lembrar, tem duas dimensões: uma horizontal, outra vertical. A primeira diz respeito às relações entre instituições e abrange os chamados freios e contrapesos entre os Poderes. Tais freios estão enferrujados e carecem de bom reparo. Muita ferrugem acaba se transformando em monturo. A dimensão horizontal abarca, ainda, políticas voltadas para o equilíbrio federativo, aí incluindo ações, programas e recursos destinados a municípios, Estados e União. Também nessa vertente a ferrugem come pelas bordas, tornando mais distante a ideia de uma reforma tributária que satisfaça os entes federativos. Como ninguém quer perder, principalmente a União, com sua bocarra, reformar tributos não passa de ruído aos ouvidos dos crentes. Já a dimensão vertical leva em conta relações entre governantes e governados, representantes e representados. Nessa faixa o vácuo é ainda maior. A promessa de abertura de fluxos de participação entre eleitos e eleitores não passa de miragem. Os governos são castelos com tesouros escondidos. Se houvesse disposição para abrir caixas-pretas, a sociedade brasileira, perplexa, prostrar-se-ia diante de um monumental PIB, sob o qual estariam escondidas obras irrelevantes, doações fantasmas, licitações superfaturadas e outras falcatruas.
Na arena da violência, a banalização campeia. De tão comuns, os assaltos se repetem, inclusive pegando as mesmas vítimas. O músico Marcelo Yuka, ex-baterista do Rappa, paraplégico depois de ter sido baleado em tentativa de assalto, em 2000, não comoveu novos assaltantes, na semana passada. Entrou na série da banalização. A área da saúde está erodida. Há quem veja nela, como o deputado Ciro Gomes, um "genocídio diário". Médicos em greve, no Rio Grande do Norte, esticam a fila dos doentes e apressam o fim dos que se agarram à vida por um fio. Nem trombetas de TV conseguem motivar as autoridades a sair do estado catatônico. O que sai da sua boca é a promessa - sempre a promessa - de contratação de novos profissionais. Nos intervalos comerciais, o ministro da Educação anuncia, em rede nacional, a Universidade Aberta do Brasil, a aprovação do piso nacional do magistério e a meta de atingir a nota 6 em índice de avaliação. Espremendo-se o verbo, sobra um SOS para o sistema educacional. O Tribunal Superior Eleitoral cassa governadores. Mas nossa legislação eleitoral - com seus incisos, parágrafos e uma montanha de resoluções - propicia, segundo especialistas, cerca de 15 mil pontos de discórdia e de interpretação.
Se formos diligentes neste passeio pelos caminhos institucionais, chegaremos à conclusão de que poucos são imunes à produção de chorume. A contaminação é geral. A separação entre a res publica e a sociedade revela monumental crise de legitimidade do Estado democrático. Eis a pergunta que cabe, ao fim e ao cabo: o que fazer? Para começar, obedecer à lei, respeitar a ordem, impor a disciplina, exigir de cada um o seu dever. Sem o que os direitos, logo, logo cairão nos lixões que devastam a paisagem.
Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político
Artigo Publicado no Jornal Estado de São Paulo de 7/3/2008 (www.estadão.com.br)
Existe uma Verdade que circula no ambiente público. “Aos inimigos o rigor da Lei, para os amigos, o benefício da lei”. Parece brincadeira, mas não é. Dentro das estruturas públicas onde o interesse privado está instalado, esta prática criminosa de deferir ou indeferir pedidos relacionados ao mesmo objeto é visto com normalidade.
Segundo Marx, “a verdade não se conhece, a verdade se faz”.
O dever do Gestor Público de observar o interesse público
Na Administração Pública, o agente público realiza sua função executiva através de atos jurídicos denominados atos administrativos. O conceito de ato administrativo tem por base o conceito de ato jurídico, diferenciando-se deste pela finalidade pública.
Ato administrativo é toda manifestação unilateral da vontade da Administração Pública, que agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados e a si própria.
São requisitos do ato administrativo:
1. Competência: o agente precisa ter poder legal para praticar o ato. Todo ato emanado de agente incompetente ou realizado além do limite de que dispõe a autoridade competente, é anulável.
2. Finalidade: o interesse público. Os atos administrativos que não atenderem o interesse público são nulos. 3. Forma: está sempre prevista na lei. Os atos jurídicos entre particulares podem ser aperfeiçoados com liberdade de forma.
4. Motivo: é o fato que autoriza a autoridade à realização do ato administrativo. Pode ser vinculado, quando expresso em lei, ou discricionário, quando a critério do administrador.
5. Objeto: identifica-se com o conteúdo do ato, através do qual a Administração manifesta seu poder e sua vontade, ou atesta situações preexistentes. No caso de um pedido, não pode ao declarar um direito, extrapolar o que foi pedido.
O Direito de Pedir
Todos são detentores de direitos e obrigações, mas num pedido dirigido a uma autoridade pública, o objetivo do argumento é expor as razões que suportam uma conclusão diante da lei. Um argumento é falacioso quando as razões apresentadas não suportam a conclusão. É importante, portanto, identificar os argumentos falaciosos para não os considerarmos verdadeiros em nossas conclusões. A falácia refere-se àquele argumento que é incorreto, mas que pode convencer as pessoas mesmo que não haja intenção. Quando há intenção de induzir a audiência ao engano, o argumento é chamado de Sofisma.
A validade dos argumentos é que irão conduzir a conclusão. Os argumentos estão tradicionalmente divididos em dedutivos e indutivos. Na lógica dedutiva, as premissas verdadeiras levam a conclusão também verdadeira.
_ Premissa: “Todo homem é mortal”.
_ Premissa: “João é homem”.
_ Conclusão: “João é mortal”.
No argumento indutivo a verdade das premissas não basta para assegurar a verdade da conclusão. A lógica, neste caso é a indutiva, que utiliza probabilidade.
_ Premissa: “É comum após a chuva ficar nublado”.
_ Premissa: “Está chovendo”.
_ Conclusão: “Ficará nublado”.
As premissas e a conclusão de um argumento, formuladas em uma linguagem estruturada, permitem que o argumento possa ter uma análise lógica apropriada para a verificação de sua validade, que consta do pedido.
Prescrição e Decadência
É comum às pessoas confundirem os termos prescrição e decadência. Prescrição é a extinção de uma ação judicial possível, em virtude da inércia de seu titular por um certo lapso de tempo e a Decadência é a extinção do direito pela inércia de seu titular.
Posto que a inércia e o tempo sejam elementos comuns à decadência e à prescrição, diferem, contudo, relativamente ao seu objetivo e momento de atuação. Na decadência, a inércia diz respeito ao exercício do direito e o tempo opera os seus efeitos desde o nascimento deste, ao passo que, na prescrição, a inércia diz respeito ao exercício da ação e o tempo opera os seus efeitos desde o nascimento desta, que, em regra, é posterior ao nascimento do direito por ela protegido.
São variados os prazos da prescrição, segundo a importância do caso, a facilidade do exercício da ação etc. Vai de dez dias a cinco anos, como se vê no artigo 178 do Antigo Código Civil; e aos casos, para os quais não há prazo previsto, aplica-se a regra geral do art. 177 do mesmo Código.
Enquanto a prescrição é suscetível de ser interrompida e não corre contra determinadas pessoas, os prazos de decadência fluem inexoravelmente contra quem quer que seja, não se suspendendo, nem admitindo interrupção.
Desta forma, em respeito aos princípios constitucionais e aos princípios inerentes a Administração Pública, deve a prescrição ser conhecida ainda na esfera administrativa, evitando que atos administrativos sejam apreciados e revistos pelo judiciário.
A Administração Pública tem, segundo posição adotada pelo direito positivo brasileiro, o prazo de 5 (cinco) anos para praticar qualquer ato que venha a interromper o prazo prescricional.
Controle Administrativo
Controle administrativo é o poder de fiscalização e correção que a Administração Pública exerce sobre sua própria atuação, sob os aspectos de legalidade e mérito, por iniciativa própria ou mediante provocação (recursos). Esse poder de rever os próprios atos quando ilegais, inoportunos ou inconvenientes, é amplamente reconhecido pelo Poder Judiciário (Súmulas 346 e 473 do STF).
Controle da Sociedade
Existem atos praticados por gestores públicos, protegidos pelo corpo de sustentação no poder, onde todos os integrantes do corpo são beneficiados, que precisam da fiscalização da sociedade. O objeto de qualquer pedido administrativo deve ser previsto em lei e se envolver recursos públicos, existe a necessidade de previsão orçamentária. Se existir parcelas retroativas, o montante da dívida reconhecida deve ser inscrita na contabilidade como dívida.
Para que seja possível uma avaliação precisa do pedido, o objeto do pedido deve ser claro, indicando a verba requerida, o valor que cabe a cada um, no presente e que não está prescrito, a forma de pagamento e reajuste das parcelas vencidas, etc (argumento indutivo). A transparência é um dos princípios da área pública. Se existe alguém recebendo valor sem saber a origem, pode ser que esteja pactuando com alguma ilegalidade e tenha que no futuro devolver esses valores.
Para a sociedade o agente político e o funcionário público não devem parecer honestos, precisam ser honestos. O recurso que paga ambos é do contribuinte, e este espera, ou melhor, acredita, que o interesse público está sendo rigorosamente observado em todos os atos praticados. Não existe lugar para falácias e sofismas na área pública.
A reserva de mercado é um avanço quando está vinculada ao progresso e a segurança da sociedade. Embora o tema seja abrangente, o foco para reflexão é o da reserva de mercado vinculado ao exercício regular da profissão de Administrador.
O avanço e a importância deste tema é percebido mais facilmente em algumas profissões. A sociedade reconhece a necessidade de um profissional devidamente registrado no CRM, CRO, OAB, CREA, CRC, dentre outras, por perceber os danos ou prejuízos imediatos que podem ocorrer, se forem atendidos por um profissional não habilitado.
No entanto, a sociedade ainda não percebe que prejuízos econômicos e sociais podem ser evitados ou reduzidos se no comando de uma organização ou nas áreas privativas de atuação do Administrador a lei fosse observada. Pessoas inabilitadas em cargos privativos do Administrador geralmente não produzem resultados e são responsáveis pela falência de empresas e desemprego para a sociedade.
É por meio do registro profissional, em um Conselho Regional de Administração - CRA, que o Bacharel de Administração se habilita legalmente para exercer a profissão de Administrador. A fiscalização efetiva do exercício profissional proporciona para a sociedade segurança em relação aos profissionais que estão atuando no mercado, e para o Administrador a reserva de mercado.
Todo exercício irregular de uma profissão deve ser denunciado, e confirmado pela fiscalização do Conselho através de notificação emitida para o titular da empresa que colocou uma pessoa inabilitada no cargo, como para a pessoa que está ocupando o cargo, exercendo de forma irregular uma profissão regulamentada por lei.
Na área pública temos observado a estruturação de carreira com designação comum, por exemplo: Analista do MP, Técnico do Judiciário, cujo edital de concurso público, faz referência aos profissionais x, y, z, que podem se inscrever para ocupar o cargo público. Tudo isso é normal.
Não é normal achar que um nome específico ou genérico utilizado para um cargo público, dá o direito, para quem o ocupar, de trabalhar em qualquer área.
O limite da atuação de um cargo é identificado pelas atribuições do cargo, que não pode invadir campos de atuação privativo de categorias profissionais criadas por lei. Não estamos falando de disfunção, estamos falando de exercício irregular de profissão, que é crime.
Novos tempos, novos desafios e nova postura. O respeito à lei está diretamente vinculado a postura ética das pessoas em reconhecerem que existe um momento onde atua o Promotor de Justiça, o Advogado, o Juiz de Direito e o Administrador. Cada profissional no limite exato de suas competências, sem invadir áreas de atuação, irá produzir o resultado que a sociedade tanto espera.
Base Legal:
Constituição Federal
Art 5º.
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;
Código Penal
Art. 205 - Exercer atividade, de que está impedido por decisão administrativa:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, ou multa.
A formação dos professores tem sido esquecida e desvalorizada, o que é elucidativo da nossa (in)cultura. Quando a Universidade considera que a formação de professores é uma questão menor ou secundária, está a pensar em termos de uma presunção que tem os dias contados e de uma inconsciência cultural e social hoje inadmissível.
Quando a população não exige professores qualificados, como o faria se fosse com profissionais da saúde, por exemplo, está a mostrar a sua deficiente formação, sendo a pouca importância que dá a isso uma consequência disso mesmo. Mas este facto, que até se compreende quando se refere a pessoas comuns, é inaceitável quando a atitude vem dos culturalmente evoluídos, ou pretensamente evoluídos, pois a cultura devia dar-lhes consciência do que está em causa, e é revelador que não dê. E se a dita mentalidade aparece até entre os profissionais do ensino, como ainda acontece, só pode querer dizer que têm uma consciência profissional (e cultural) com debilidades que desconhecem, para além de ser, no sentido rigoroso do termo, um absurdo.
Ora, quando foi preciso professores para a expansão do sistema educativo, competia às universidades criar processos mais abertos e dinâmicos que respondessem às necessidades, sem deixarem de garantir uma boa formação. Tirando as universidades novas, as universidades clássicas fizeram-no tarde, com relutância, e com níveis de preparação psicopedagógica elementar; digamos que toleraram que a coisa se fizesse. Se tivessem tomado a seu cargo a formação dos professores, na linha da investigação que alguns departamentos universitários faziam há muito, certamente que outro galo teria cantado.
Quando os sindicatos, aceitavam, incentivavam e promoviam a inscrição e sindicalização de candidatos a professores, sem querer saber de licenciatura nem de profissionalização, estavam a ver a classe como uma força política e a desprezar a sua efectiva valorização e defesa. Qual seria o sindicato – de electricistas, metalúrgicos, enfermeiros, etc. – que aceitaria inscrições de meros aprendizes ou até simples curiosos sem preparação específica e por vezes nem científica?
Como uma classe assim desvalorizada também aproveitava, segundo parecia, ao Ministério, compreende-se que sindicatos e governos se tenham oposto à criação de uma ordem dos professores, por exemplo. Não percebendo que uma massa heterogénea é tanto mais violenta e perigosa quanto mais desqualificados alberga, o Ministério acabou por ficar refém destas políticas, que depois foi tentando emendar, mas mal. Assim, a formação de professores andou mais de trinta anos ao serviço de grupos de pressão (ou de omissão) e portanto agora não se queixem dos maus resultados e das deficiências do sistema de ensino. Não é uma razão única, mas é de peso.
Note-se que não estou a desvalorizar a classe docente, ou só o faço relativamente ao que ela poderia e deveria ser. Sei dos muitos e belíssimos professores que temos, que a maioria ainda se formou em boas universidades, com cursos exigentes e uma boa preparação científica, e que, apesar de tudo, tiveram alguma preparação psicopedagógica e que a prática acabou por complementar. Mas é evidente que os que tinham responsabilidades neste domínio ficaram muito aquém daquilo que as circunstâncias exigiam deles. E que o Ministério, que tanto gosta de tudo controlar, deixou as coisas entregues a si mesmo, primeiro, a uma espécie de “poder popular” e de ”rebelião das massas”, que tudo mandavam, e depois e às sacrossantas leis do mercado, que tudo resolvem. E isto, note-se, num país onde os arranjistas são mais que as moscas.
O texto acima de João Boavida, postado no blog De Rerum Natura, em 13/10/2007, retrata o descaso do Governo, do Sindicato e da Sociedade com a qualificação dos professores em Portugal. O Problema de lá também ocorre aqui no Brasil de forma mais grave.
De nada adianta falar em falência educacional ou de ladrões da qualidade, quando permitimos que o Estado contrate professores que tiram nota zero num exame para fins de contratação de professores temporários.
O Segredo: a qualidade do ensino no Brasil é baixa, porque o Estado não contrata o número de professores necessários para a rede de ensino, através de concurso público. Assim, anualmente o Governo é obrigado a suprir a lacuna com professores temporários, que não podem receber qualificação porque são temporários, e nesse ciclo que se repete todos os anos a qualidade do ensino vai se deteriorando.
O Segredo do Segredo: investir em educação é acabar com maioria dos males que afligem a sociedade. Porém, construir um Estado moderno, onde pessoas intruídas podem pensar por conta própria, não é o ambiente ideal para prosperar governos corruptos e comprometidos com o interesse privado.
Imagem: Queda de Água de M. C. Escher